Conta-se que o nosso poeta (escritor, dramaturgo, político), João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, fundador do romantismo em Portugal, era um homem muito vaidoso, mas com poucos atributos físicos. Por isso, procurava dissimular os defeitos de modo a ter uma aparência sedutora.
Em determinada altura, terá posto ao seu serviço um rapazinho, chegado da província, não habituado à estética e aos disfarces da sociedade mais evoluída.
À noite, quando se preparava para dormir, pediu ao miúdo que o ajudasse a despir-se. Começou, então, por tirar a peruca, o que deixou o criado espantado; de seguida, tirou os dentes postiços e mandou o rapaz, já pálido, pô-los num copo; depois, passou-lhe as almofadinhas que modelavam a barriga das pernas e o peito, com o que o rapaz ficou completamente alucinado.
Então Garrett, que já se apercebera da tremenda agitação do criado, diz-lhe com ar muito sério: “Agora, desatarraxa-me a cabeça e põe-na em cima da mesa-de-cabeceira.”
O miúdo, apavorado, fugiu do quarto a correr e nunca mais apareceu.
Acabou há dias a festa dos disfarces, onde tudo pode acontecer. No carnaval podem ultrapassar-se todos os limites da decência e permitir-se o que normalmente é criticado e proibido.
Com origem em rituais pagãos, não passa de uma manifestação popular das obras da carne pois há um excesso de danças sensuais, nudez, lascívia, mentira e, também, vinho, drogas e imoralidade sexual.
E, falando em disfarces, como é com os crentes? Não me refiro ao carnaval, mas ao convívio espiritual.
Sinceramente, não sei o que nos aconteceria se assistíssemos ao despir da máscara de alguns crentes “muito espirituais”.
Esta análise começo por fazer a mim própria, para não cair na tentação de mostrar aquilo que não sou ou de me envaidecer com o que sou ou faço.
Lembram-se da parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:9-14)?
A atitude convencida do fariseu quando foi ao templo é a de um homem presunçoso a descrever o quanto é fantástico. Jesus diz que ele “orava de si para si”, preocupado que estava em exaltar as suas virtudes e em fazer comparações com os outros.
Ele nunca demonstrou humildade ou gratidão, simplesmente, de forma orgulhosa, se considerava tão extraordinário que queria ser ouvido.
Mas a verdade é que o fariseu era hipócrita, estava mascarado de espiritual através das suas obras religiosas, jejuns, ofertas, boas intenções e palavras bonitas.
Ora, a personalidade dos filhos de Deus não pode ser fantasiada, tem de ser genuína. Aos crentes é pedido:
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como oferta
e sacrifício a Deus em aroma suave.
e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como oferta
e sacrifício a Deus em aroma suave.
Mas a impudicícia e toda a sorte de impurezas, ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém a santos; nem conversão torpe, nem palavras vãs, ou chocarrices, coisas essas inconvenientes,
antes, pelo contrário, acções de graça.
antes, pelo contrário, acções de graça.
Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro,
ou avarento, que é idólatra,
tem herança no reino de Cristo e de Deus.
ou avarento, que é idólatra,
tem herança no reino de Cristo e de Deus.
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto não sejais participantes com eles.” – Efésios 5:1-7
O que achei hilariante no relato sobre Almeida Garrett, entristece-me quando acontece com os crentes.
Analisemo-nos, dispamos toda a roupagem enganosa e limpemos a cabeça pois é lá que o fingimento se desenvolve. Será desolador ver alguém fugir e nunca mais voltar por causa dos nossos disfarces.