Foi propositadamente que disse: “ganhei” porque, na verdade, não me foi oferecida, não a achei e não a comprei.
Tinha 8 anos, ia à igreja, já sabia ler, mas ainda não tinha a minha própria Bíblia. Talvez porque fosse cara; talvez por ser criança; talvez por qualquer outra coisa…
Mas um dia, a 22 de Maio de 1958, eu ganhei uma!
Durante algum tempo, não sei se muito ou pouco, nem porquê, os meus pais frequentaram a Igreja Presbiteriana (Rua de Febo Moniz - Lisboa, ainda existente). Lembro-me que, com excepção do templo e do gabinete do pastor, as instalações me assustavam um pouco.
O salão de festas (com características de pequeno teatro) era um espaço privilegiado de actividades.
Creio que foi numa noite em que fiz de “andorinha” numa peça que, após a representação, a presidente da Sociedade de Senhoras subiu ao palco, colocou uma grande caixa redonda de chapéus sobre um banco, e desafiou o auditório a, mediante um pagamento simbólico, adivinhar o que a caixa continha, sendo que esse seria o prémio para o ganhador. A única informação que a senhora dava era que lá dentro estava “o objecto mais importante, necessário e precioso para o ser humano”.
E, a cada aposta dada, visivelmente desiludida, repetia a frase.
Desde o início que insisti com o meu pai para me deixar dar um palpite (que lhe segredei) e ele, insistentemente, recusou.
Das várias apostas, fixei duas, provavelmente por as ter achado lógicas: “um copo de água” e “um despertador”, mas falharam tal como todas as outras. Eu continuava a teimar com o meu pai até que, por fim, ele lá cedeu.
Levantei a mão e disse: “É uma Bíblia!”
A senhora tapou a cara com ambas as mãos e depois, a reprimir as lágrimas, mas com a voz embargada disse: “Eu não acredito, uma criança, meu Deus, foi preciso ser uma criança”.
Eu não estava a perceber nada, fiquei até na dúvida se aquela atitude era “sim” ou “não”.
Depois, chamou-me ao palco; as pessoas batiam palmas; ela abraçou-me com força e beijou-me; e eu fiquei alegre, envergonhada e confusa com tanta efusão. Aberta a caixa, ali estava a minha primeira Bíblia.
Senti uma vaidade imensa! Tinha uma Bíblia minha, só minha!
Posso dizer que esta companheira de jornada, muito me auxiliou a vencer obstáculos, guiou os meus passos no caminho da fé e deu-me conhecimento da vontade de Deus.
Hoje, descansa na estante, velhinha e manuseada.
A Bíblia contém palavras de amor e vida capazes de nos encher de confiança e alegria. Por isso, digo como o salmista:
"Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra, e Luz para o meu caminho." - Salmos 119:105
5 comentários:
Olá! Mimi! Boa tarde!
Mas que lindo é tudo o que acabo de ler sobre como ganhou a sua primeira Bíblia; gostei muito!!!... E lembrei-me da minha 1ª Bíblia, não a ganhei, como a Mimi, foi-me oferecida faz na próxima 5ª-feira, dia 26, 55 anos; foi no dia em que fiz 18. Todos nós lá em casa tinha-mos a nossa Bíblia que o nosso pai nos deu, não sei o que foi da minha.
Acabei de ler o seu Poste, e fui buscar a minha velha Bíblia, tenho-a aqui; a dedicatória é precisamente o versículo, que a Mimi escreveu no fim do texto. As coisas que estão no meio das páginas deixam-me saudosamente encantada, pois têm tantos anos…
Beijinhos
Esperança
Amiga, obrigada pela visita e pelo comentário.
É bom recordar e ir ao "baú" de vez em quando.
Beijos e Shalom!
Também fiquei muito contente e me senti importante quando recebi a minha primeira bíblia. Lembro-me do local, da data e de quem a deu. Ainda a tenho comigo, apesar de ela ter andado uns tempos por outras mãos e ter sofrido duros "ataques" das minhas filhas. Mas o simbolismo é o mesmo que a Mimi atribui: a Palavra de Deus como guia e auxílio sempre presente.
Que engraçado!
Li p primeiro comentário até ao fim sem saber quem o escreveu. Enquanto lia ia sorrindo e pensando: Mas que bonito!
Quem terá colocado aqui este comentário?
E já matutava na hipõtese de ter sido uma pessoa que ambas conhecemos muito bem e de quem somos amigas há muito tempo...
Quando li Esp+erança...meneei a cabeça e concluí:
Clatro, foi a Esperança.
Mimi
Gostei muito do seu texto. Tanto, que peço permissão para o levar e publicar no meu blogue. Posso?
Acho que osmeus amigos ganharão em conhcê-lo.
Um grande abraço
viviana
Obrigada pela vossa visita.
Pedro, que bom teres a tua primeira Bíblia, mesmo depois dos ataques, e que recordas a sua história.
Viviana, se acha útil, disponha.
Gosto de compartilhar as histórias e, acima de tudo, a acção da Palavra na minha vida.
Beijos.
Mimi
Enviar um comentário