"PORQUE EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE"


domingo, 26 de junho de 2011

Os Doze

Jesus escolheu doze homens, de entre os que O seguiam, para serem seus apóstolos e, assim, participarem do seu ministério, preparando-os para divulgar o Evangelho. Mas, para essa escolha, primeiro Jesus buscou a vontade do Pai com quem esteve em comunhão durante uma noite.
Esta foi, sem dúvida, uma chamada irresistível, mas também arriscada, afinal, cada um acabou por ter a sua quota-parte de importância na formação da igreja.

“Naqueles dias retirou-se (Jesus) para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.
E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor.” – Lucas 6: 12-16

Doze homens, cada um diferente do outro, com características e vivências diferentes:

SIMÃO * nome hebraico que quer dizer “Aquele que ouve” – filho de Jonas ou João, (Barjonas) Mateus 16:17 e irmão de André Marcos 1:16; natural de Betsaida João 1:44; casado Mateus 8:14; Jesus chamou-o de PEDRO (em grego), o mesmo que CEFAS (em aramaico) João 1:42 que quer dizer “Pedra”; era pescador Marcos 1:16; empresário Lucas 5:8-10; residia em Cafarnaum, na Galiléia Marcos 1:21,29; impulsivo João 18:10; medroso Marcos 14:71; com marcado sotaque galileu Marcos 14:70; alfabetizado, pois escreveu às igrejas da Ásia Menor I e II Pedro.

ANDRÉ que quer dizer “Viril” – era discípulo de João e tornou-se o primeiro a seguir Jesus João 1:40; natural de Betsaida João 1:44; irmão de Pedro, a quem levou a Jesus João 1:41; residia junto com o irmão em Cafarnaum, na Galiléia Marcos 1:21,29; pescador Marcos 1:16.

TIAGO * que significa “O que suplantou” – filho de Zebedeu e irmão de João Marcos 1:19; provavelmente primo de Jesus **; pescador Marcos 1:19; empresário Marcos 1:20; protegido pela mãe Mateus 20:20-21; talvez intempestivo (Boanerges) Marcos 3:17 (Lucas 9:54).

JOÃO * ou seja “Deus é bondoso” – filho de Zebedeu e irmão mais novo de Tiago (o nome de Tiago aparece sempre primeiro) Marcos 1:19; provavelmente primo de Jesus **; pescador Marcos 1:19; homem de negócios Marcos 1:20; protegido pela mãe Mateus 20:20-21; talvez intempestivo (Boanerges) Marcos 3:17 (Lucas 9:54); bem relacionado socialmente  João 18:15-16; da máxima confiança de Jesus João 19: 26-27; alfabetizado, na Bíblia figuram o Evangelho, 3 Epístolas e o livro do Apocalipse de sua autoria.

FILIPE nome grego que quer dizer “Aquele que gosta de cavalos” – morador de Betsaida João 1:44; com espírito evangelizador João 1:45.

BARTOLOMEU cujo nome próprio seria NATANAEL que quer dizer “Dádiva de Deus” – filho de Tolmai (Bartolomeu); natural de Cana da Galileia João 21:2; chamado por Filipe João 1:45; homem íntegro João 1:47.

MATEUS nome que quer dizer “Oferta de Deus”, também conhecido como LEVI Marcos 2:14 que quer dizer “Unido”– filho de Alfeu Marcos 2:14; cobrador dos impostos Mateus 9:9; rico Lucas 5:29; alfabetizado, dada a natureza do seu trabalho e porque escreveu o evangelho que levou o seu nome.

TOMÉ que significa “Gémeo”, também conhecido pelo nome hebraico DÍDIMO João 20:24 com o mesmo significado (provavelmente, teve um gémeo) – fiel João 11:16; interessado em desfazer dúvidas João 14: 5 e 20:25.

TIAGO que quer dizer “O que suplantou” – filho de Alfeu Mateus 10:3; podia ser irmão de Mateus (pois o pai tinha o mesmo nome) e/ou de José Mateus 27:56; era identificado como “o menor” Marcos 15:40, caso a passagem se refira a este Tiago.

SIMÃO nome hebraico que quer dizer “Aquele que ouve” – chamado de zelote (nome grego dos que seguiam o partido nacionalista) homem público e político Lucas 6:15.

TADEU que significa “O corajoso” cujo nome próprio seria JUDAS Lucas 6:16 que quer dizer “Deus é glorificado” – filho de Tiago Lucas 6:16; gozava dos cuidados de João João 14:22.

JUDAS ISCARIOTES o nome próprio quer dizer “Deus é glorificado”, o apelido tem a ver com a terra de origem, Queriote, cidade de Judá – filho de Simão Iscariotes João 6:71; hipócrita, ladrão e tesoureiro do grupo João 12:4-6; somítico Mateus 26:14-15; traidor Marcos 14:10; auto-critico Mateus 27:3-4; suicida Mateus 27:5.

* – Faziam parte do núcleo duro de Jesus (Pedro, Tiago e João).
** – Por exclusão de partes, comparando Mateus 27:56, Marcos 15:40 e João 19:25.

domingo, 19 de junho de 2011

Nós e os Outros

“O Triunfo dos Porcos”, excelente romance de George Orwell, conta a história de uma revolução animal. Trata-se de um velho porco que incita os outros animais da quinta contra a exploração a que estavam sujeitos pelo dono. Tendo morrido em poucos dias, foi substituído na direcção da luta por três outros porcos que, expulsam o dono da quinta, promovem a auto-gestão e fazem progredir a economia da propriedade, bem como a igualdade e o desenvolvimento social dos animais.
Foi então que esses dirigentes se tornaram corruptos pelo poder e, numa assembleia, perante o desagrado demonstrado pelos outros animais, decretaram uma nova ética: “Todos somos iguais, só que uns somos mais iguais que os outros.”

Este é o ponto a que queria chegar porque, é bonito e soa bem essa coisa da igualdade, mas na prática, o que é que cada um de nós tem feito, sem que, lá atrás na nossa mente, não exista a ideia de que “uns somos mais iguais que os outros”?

Vamos imaginar que correspondíamos ao mandado de Cristo: “Ide e pregai o Evangelho a toda a criatura.”

Toda… que toda?
É que, na verdade, não só não atingimos, como nem sequer pensamos em certos segmentos da sociedade. Ou seja, fazemos um “apartheid”, mesmo que de forma inconsciente, no que toca à evangelização.
Sei que há algumas excepções… poucas! Conheço muitos crentes sem preconceitos… talvez alguns!
Mas, no geral, somos o espelho da sociedade em matéria de diferenças e descuramos tanto o acessório (os meios), como o essencial (a salvação de almas).

Posto que o Evangelho é para todos, vejamos as condições que oferecemos nos locais de culto:
- se todos conseguimos subir uma rampa, porque é que quando não há espaço suficiente para dois acessos se opta pelos degraus?
- quando somos visitados por estrangeiros, havendo na igreja quem saiba a língua, porque não se faz a aproximação para tradução do culto?
- porque não é promovida a formação em língua gestual para facilitar a evangelização de surdos?
- com a caridade feita na distribuição de alimentos aos sem-abrigo, porque não se fala de Cristo e não se indica uma igreja próxima?
E depois, temos ido às prisões, temos visitado as instituições de deficientes, temo-nos interessado pelos bairros degradados?
Quantas pessoas “diferentes” estão regularmente nas nossas comunidades? Dessas, quantas se converteram a Cristo já portadoras da diferença e fruto do nosso trabalho?

Cegos, surdos, malcheirosos, perfumados, pobres, ricos, sem-abrigo, estrangeiros, dependentes, limitados mentais ou motores, prostitutas, presos, “normais”..., todos; Jesus lidou com todos!
Mas nós, em vez de O imitarmos, mantemos a atitude daqueles que O acompanhavam e estranhavam os seus contactos perguntando: Porquê?
Talvez sejamos mais ousados: Para quê?

Vamos imaginar uma congregação onde possa existir uma miscelânea de gente a louvar a Deus, todos com direitos iguais?!

“Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem recebe recompensas.”
Deuteronómio 10: 17


(Imagine - John Lennon)

Um dia, na Pátria Celestial, o mundo de cada um será um só para todos os salvos. Acham que isto é utopia? Não faz mal, eu acredito à mesma e sei que, com os diferentes, pudemos, desde já, fazer a igualdade!

domingo, 12 de junho de 2011

Dia do Pastor Baptista




E Ele mesmo concedeu uns... para pastores e mestres.” Efésios 4: 11





O segundo domingo de Junho é assinalado como o “Dia do Pastor Baptista”.
Em homenagem a esses homens que servem no ministério pastoral, tentarei aqui realçar alguns requisitos necessários para se ser pastor:

CHAMADA
“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, Eu vos escolhi a vós e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça…” – João 15: 16
“Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” – Mateus 9: 38

FORMAÇÃO
“Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento.” – Provérbios 3:13
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correcção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra.” – II Timóteo 3: 16-17

PRÁTICA
“Importa que façamos as obras d’Aquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” – João 9: 4
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” – I Timóteo 4: 16


“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia n’Ele, e o mais Ele fará.” – Salmo 37: 5
“De facto, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que O buscam.” – Hebreus 11: 6

ORAÇÃO
“Quanto a nós, perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” – Actos 6: 4
“Com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para isto, vigiando com toda a perseverança e súplica por todos os santos.” – Efésios 6: 18

ZELO
“Olhai por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com seu próprio sangue.” – Actos 20: 28
“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, corrige, repreende, exorta, com toda a longanimidade e doutrina” – II Timóteo 4: 2

EXEMPLO
“…torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.” – I Timóteo 4: 12
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e assim transmita graça aos que a ouvem.” – Efésios 4: 29

HUMILDADE
“Então Samuel tomou uma pedra e a pôs entre Mispa e Sem, e lhe chamou Ebenézer; e disse: «Até aqui nos ajudou o Senhor.»” –
I Samuel 7: 12
“O temor do Senhor é a instrução da sabedoria; e adiante da honra vai a humildade.” – Provérbios 15: 33

Parabéns!
O meu obrigada a todos os homens de Deus que exercem o ministério com verdade.
E, a minha oração para que, junto da comunidade onde servem, se possa ouvir acerca de vós:

“Nesta cidade há um homem de Deus, e é muito estimado; tudo quanto ele diz, sucede. Vamo-nos agora lá; mostrar-nos-á, porventura, o caminho que devemos seguir.”
I Samuel 9: 6

sábado, 4 de junho de 2011

Deus

“…Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade.
Bendito seja o Teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda a bênção e louvor.” – Neemias 9: 5

Com 3 anos e meio, em cima de uma cadeira, na chamada Igreja do Castelo, em Almada, disse um pequeno poema. Era a primeira vez (ainda o recordo, bem como o momento).
Mais tarde, apaixonei-me pelas palavras e pela poesia e, durante a adolescência e a juventude, foram inúmeras as vezes e os locais onde fiz uso da arte de dizer, ganhei alguns prémios e, passados tantos anos, ainda há pessoas que me lembram ligada à poesia.
Hoje, lamento que o hábito de louvar a Deus através de poesia tenha caído em desuso nas nossas igrejas.
Todos os poemas que disse eram escolhidos por mim, porque precisava de os sentir profundamente, porém, há três que foram especiais e desses, um foi sempre favorito.
Convido-vos a, embora longo, lê-lo e senti-lo. É lindo!


DEUS

Nas horas de silêncio, à meia-noite,
eu louvarei o Eterno!
Ouçam-me a terra, e os mares rugidores,
e os abismos do Inferno.
Pela amplidão dos céus meus cantos soem
e a Lua resplendente
pare em seu giro, ao ressoar nesta harpa
o hino do Omnipotente.

Antes de tempo haver, quando o infinito
media a eternidade
e só do vácuo as solidões enchia
de Deus a imensidade,
Ele existia, em sua essência envolto,
e fora d’Ele o nada...
no seio do Criador a vida do homem
estava ainda guardada;
ainda então do mundo os fundamentos
na mente se escondiam
de Jeová e, os astros fulgurantes,
nos céus não se volviam.

Eis o Tempo, o Universo, o Movimento
das mãos solta o Senhor:
surge o Sol, banha a Terra, desabrocha
nesta a primeira flor;
sobre o invisível eixo range o globo;
o vento o bosque ondeia;
retumba ao longe o mar; da vida a força
a natureza anseia!

Quem, dignamente, ó Deus, há-de louvar-Te
ou cantar Teu poder?
Quem dirá de Teu braço as maravilhas,
fonte de todo o ser:
no dia da Criação, quando os tesouros
da neve amontoaste,
quando da Terra nos mais fundos vales
as águas encerraste?!

E eu onde estava quando o Eterno os mundos,
com destra poderosa,
fez, por lei imutável, se livrassem
na mole ponderosa?
Onde existia então? No tipo imenso
das gerações futuras;
na mente do meu Deus. Louvor a Ele
na Terra e nas alturas!

Oh, quanto é grande o rei das tempestades,
do raio, e do trovão!
Quão grande o Deus que manda, em seco estio,
da tarde a viração!
Por Sua providência nunca, embalde,
zumbiu mínimo insecto;
nem volveu o elefante, em campo estéril,
os olhos inquieto.
Não deu Ele à avezinha o grão da espiga,
que ao ceifador esquece?
Do norte ao urso o sol da Primavera,
que o reanima e aquece?
Não deu Ele à gazela amplos desertos,
ao cervo a amena selva,
ao flamingo os pauis, ao tigre o antro,
no prado ao touro a relva?
Não mandou Ele ao mundo, em luto e trevas,
consolação e luz?
Acaso em vão algum desventurado
curvou-se aos pés da cruz?
A quem não ouve Deus? Somente ao ímpio
no dia da aflição,
quando pesa sobre ele, por seus crimes,
do crime a punição.

Homem, ente imortal, que és tu perante
a face do Senhor?
És a junça do brejo, harpa quebrada
nas mãos do trovador!
Olha o velho pinheiro, campeando
entre as neves alpinas,
quem irá derribar o rei dos bosques
do trono das colinas?
Ninguém! Mas ai do abeto, se o seu dia
extremo Deus mandou;
lá correu o aquilão, fundas raízes
aos ares lhe assoprou.
Soberbo, sem temor, saiu na margem
do caudaloso Nilo,
o corpo monstruoso ao sol voltando,
medonho crocodilo.
De seus dentes em roda o susto habita;
vê-se a morte assentada
dentro em sua garganta; se descerra
a boca afogueada;
qual duro arnês de intrépido guerreiro
é seu dorso escamoso;
como os últimos ais de um moribundo,
seu grito lamentoso;
fumo e fogo respira quando irado,
porém, se Deus mandou,
qual do norte impelida a nuvem passa,
assim ele passou!

Teu nome ousei cantar! Perdoa, ó Nume;
perdoa ao teu cantor!
Dignos de Ti não são meus frouxos hinos,
mas são hinos de amor.
Embora vis hipócritas Te pintem
qual bárbaro tirano,
mentem, por dominar com férreo ceptro
o vulgo cego e insano.
Quem os crê é um ímpio! Recear-Te
é maldizer-Te, ó Deus;
é o trono dos déspotas da Terra
ir colocar nos Céus.
Eu, por mim, passarei entre os abrolhos
dos males da existência
tranquilo e sem temor, à sombra posto
da Tua Providência.

Alexandre Herculano, in “A Harpa do Crente” – 1838 –
Poema escrito em Setembro de 1831, durante o exílio em Plymouth (Inglaterra)