"PORQUE EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE"


sábado, 4 de junho de 2011

Deus

“…Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade.
Bendito seja o Teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda a bênção e louvor.” – Neemias 9: 5

Com 3 anos e meio, em cima de uma cadeira, na chamada Igreja do Castelo, em Almada, disse um pequeno poema. Era a primeira vez (ainda o recordo, bem como o momento).
Mais tarde, apaixonei-me pelas palavras e pela poesia e, durante a adolescência e a juventude, foram inúmeras as vezes e os locais onde fiz uso da arte de dizer, ganhei alguns prémios e, passados tantos anos, ainda há pessoas que me lembram ligada à poesia.
Hoje, lamento que o hábito de louvar a Deus através de poesia tenha caído em desuso nas nossas igrejas.
Todos os poemas que disse eram escolhidos por mim, porque precisava de os sentir profundamente, porém, há três que foram especiais e desses, um foi sempre favorito.
Convido-vos a, embora longo, lê-lo e senti-lo. É lindo!


DEUS

Nas horas de silêncio, à meia-noite,
eu louvarei o Eterno!
Ouçam-me a terra, e os mares rugidores,
e os abismos do Inferno.
Pela amplidão dos céus meus cantos soem
e a Lua resplendente
pare em seu giro, ao ressoar nesta harpa
o hino do Omnipotente.

Antes de tempo haver, quando o infinito
media a eternidade
e só do vácuo as solidões enchia
de Deus a imensidade,
Ele existia, em sua essência envolto,
e fora d’Ele o nada...
no seio do Criador a vida do homem
estava ainda guardada;
ainda então do mundo os fundamentos
na mente se escondiam
de Jeová e, os astros fulgurantes,
nos céus não se volviam.

Eis o Tempo, o Universo, o Movimento
das mãos solta o Senhor:
surge o Sol, banha a Terra, desabrocha
nesta a primeira flor;
sobre o invisível eixo range o globo;
o vento o bosque ondeia;
retumba ao longe o mar; da vida a força
a natureza anseia!

Quem, dignamente, ó Deus, há-de louvar-Te
ou cantar Teu poder?
Quem dirá de Teu braço as maravilhas,
fonte de todo o ser:
no dia da Criação, quando os tesouros
da neve amontoaste,
quando da Terra nos mais fundos vales
as águas encerraste?!

E eu onde estava quando o Eterno os mundos,
com destra poderosa,
fez, por lei imutável, se livrassem
na mole ponderosa?
Onde existia então? No tipo imenso
das gerações futuras;
na mente do meu Deus. Louvor a Ele
na Terra e nas alturas!

Oh, quanto é grande o rei das tempestades,
do raio, e do trovão!
Quão grande o Deus que manda, em seco estio,
da tarde a viração!
Por Sua providência nunca, embalde,
zumbiu mínimo insecto;
nem volveu o elefante, em campo estéril,
os olhos inquieto.
Não deu Ele à avezinha o grão da espiga,
que ao ceifador esquece?
Do norte ao urso o sol da Primavera,
que o reanima e aquece?
Não deu Ele à gazela amplos desertos,
ao cervo a amena selva,
ao flamingo os pauis, ao tigre o antro,
no prado ao touro a relva?
Não mandou Ele ao mundo, em luto e trevas,
consolação e luz?
Acaso em vão algum desventurado
curvou-se aos pés da cruz?
A quem não ouve Deus? Somente ao ímpio
no dia da aflição,
quando pesa sobre ele, por seus crimes,
do crime a punição.

Homem, ente imortal, que és tu perante
a face do Senhor?
És a junça do brejo, harpa quebrada
nas mãos do trovador!
Olha o velho pinheiro, campeando
entre as neves alpinas,
quem irá derribar o rei dos bosques
do trono das colinas?
Ninguém! Mas ai do abeto, se o seu dia
extremo Deus mandou;
lá correu o aquilão, fundas raízes
aos ares lhe assoprou.
Soberbo, sem temor, saiu na margem
do caudaloso Nilo,
o corpo monstruoso ao sol voltando,
medonho crocodilo.
De seus dentes em roda o susto habita;
vê-se a morte assentada
dentro em sua garganta; se descerra
a boca afogueada;
qual duro arnês de intrépido guerreiro
é seu dorso escamoso;
como os últimos ais de um moribundo,
seu grito lamentoso;
fumo e fogo respira quando irado,
porém, se Deus mandou,
qual do norte impelida a nuvem passa,
assim ele passou!

Teu nome ousei cantar! Perdoa, ó Nume;
perdoa ao teu cantor!
Dignos de Ti não são meus frouxos hinos,
mas são hinos de amor.
Embora vis hipócritas Te pintem
qual bárbaro tirano,
mentem, por dominar com férreo ceptro
o vulgo cego e insano.
Quem os crê é um ímpio! Recear-Te
é maldizer-Te, ó Deus;
é o trono dos déspotas da Terra
ir colocar nos Céus.
Eu, por mim, passarei entre os abrolhos
dos males da existência
tranquilo e sem temor, à sombra posto
da Tua Providência.

Alexandre Herculano, in “A Harpa do Crente” – 1838 –
Poema escrito em Setembro de 1831, durante o exílio em Plymouth (Inglaterra)

1 comentário:

Viviana disse...

Querida Mimi

Sim, amiga, nesse tempo recitavam-se muitas poesias nos cultos. Recordo-me de a ouvir, jovem...apresentá-los "na nossa Igreja"...

Hoje, praticamente caíram em desuso...

E...poemas grandes como este, eram recitados de memória.
Não eram lidos como hoje se faz.

Saudades!

Este é um dos meus favoritos...
Já o disse vezes sem conta.

Foi muito bom partilhá-lo aqui connosco.
Obrigada.
Logo. quando o Jorge chegar, irei mostrá-lo.
Sei que vai gostar de o ver.

Uma semana muito abençoada

Um abraço

viviana