A menos de cinco minutos da minha casa situa-se a Igreja Matriz de Loures.
Fora do movimento urbano, todo o espaço envolvente é muito tranquilo.
Para mim é um lugar privilegiado que frequento, quase diariamente, ao fim da tarde, ou a qualquer hora aos fins-de-semana e feriados.
Ali, os meus netos e a cadelita brincam livremente, fazemos descobertas, apanhamos flores silvestres e visitamos o riacho.
E, quando as crianças não estão, posso sentar-me a ler, ou simplesmente a pensar, sem contar o tempo.
|
"Casa do Adro"
Depart. de Cultura da C. Municipal |
O barulho do silêncio, o ar fresco e as cores limpas da natureza… tornam esse local fantástico para curtir a minha solidão, nem calculam quanto!
|
Hortas |
Há uns dois anos, numa manhã muito serena, estava eu entregue à leitura (exactamente nesse banco) quando fui interrompida por um inesperado: “Bom dia!”
Levantei os olhos, respondi e regressei à leitura.
Era um homem que, posteriormente, me disse ter oitenta e tal anos (não recordo bem quantos). Alto, muito bem vestido, com um porte distinto e bem parecido.
Após um breve silêncio, disse:
- Já viu isto minha senhora? Monumentos ricos, muitas palavras, mas nós continuamos a ser infelizes.
Percebi que se referia à igreja.
- Eu sou do Norte, raramente venho cá a baixo a casa duns familiares, mas desde que a minha mulher morreu gosto de andar por aí sozinho. Trabalhei desde muito novo, consegui ter a minha própria empresa. Não me falta nada, tenho dinheiro, fui sempre um homem honesto, mas sinceramente vivo insatisfeito, não sou feliz.
- Pois é, mas quem disse que a felicidade está nos edifícios ou nas palavras?
- A senhora é feliz?
- Não!
Ele sorriu como se já soubesse o que eu ia responder.
- Está a ver?!
Sem quase lhe dar tempo a respirar, respondi:
- Mas eu tenho paz!
- Como minha senhora, qual paz? Eu só vejo guerra por todo o lado, no mundo, nas famílias, nas religiões…, não se pode confiar em ninguém.
- Não estamos a falar da mesma coisa. Eu refiro-me à paz interior que tenho comigo e com Deus. É uma paz que ultrapassa todos os cenários bélicos da vida. Por isso, há muitas contrariedades que não me deixam ser feliz, mas ainda assim, eu tenho paz. Posso dar-lhe uma perspectiva bíblica sobre a paz que eu sinto?
E sem esperar o consentimento:
- Cristo quando estava prestes a deixar o mundo disse aos discípulos – e citei João 14:27 –
«Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.» Ora, isto serve para os nossos dias. Esta é a minha paz, não a do mundo, mas a que Deus oferece.
- E se eu não acreditar em Deus?
- Bom, se o senhor não acredita, a sua visão sobre Paz e Vida são muito redutoras; não tem perspectiva.
- É capaz de ter razão.
- Acredite, eu e todos os que entregam a sua vida aos desígnios de Deus, sentimos esta paz. Então, podem vir tempestades porque estamos seguros.
Depois olhou o relógio:
- Oh minha senhora, fez-me bem falar consigo este bocadinho. Gostei do que disse.
Agora, tenho de ir porque me esperam para almoçar e não quero que se preocupem.
- Sim senhor, passe bem e lá na sua terra procure alguém que conheça Deus e o possa ajudar, porque Ele faz toda a diferença na nossa vida e no nosso pensamento.
- A senhora é católica?
- Não, sou evangélica.
- Quem sabe um dia voltamos a ver-nos. Tenha um bom dia.
Esta é a substância dum diálogo inesperado, numa agradável e tranquila manhã.
Não tive à-vontade para pedir o contacto do senhor, mas espero ter desorganizado o seu esquema de valores e que isso o tenha levado a procurar Deus.
Nunca mais o vi.
Normalmente as pessoas procuram a felicidade porque a relacionam com coisas palpáveis que nunca nos satisfazem, mesmo quando, humanamente, já se tem tudo. Porque, a felicidade é relativa e não tem a mesma dimensão para todos.
Porém, a paz com Deus, apaga toda a angústia e dá tranquilidade ao que crê.
“Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.” – Romanos 5:1
Shalom!