"PORQUE EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE"


sábado, 19 de novembro de 2011

Sem Palavras

Pr. Abel Rodrigues
Início do Ministério U.B.



A primeira memória que tenho deste homem, vem do tempo em que eu tinha aquele tamanhinho que exemplificamos quando esticamos a mão abaixo da cintura e de quem mais tarde dizemos “andou comigo ao colo”... e andou mesmo!





Muitas vezes dou comigo a pensar nele com uma enorme ternura por tudo o que representou para mim. O Pr. Abel Rodrigues foi, sem dúvida, o meu pai na fé.
Levou-me até aos pés da cruz e com ele fiz a mais importante decisão da minha vida; ensinou-me a esmiuçar os textos bíblicos; orou por mim; foi amigo e conselheiro. Devo-lhe uma boa parte da mulher que hoje sou.
Talvez por isso, não posso esquecê-lo e não deixo de o amar!

Abel Pinheiro Rodrigues, nasceu a 23.06.1921 e a 17.11.2006 foi encontrar-se com o Pai.
Homem de uma lucidez e sensibilidade extraordinárias; com enorme sabedoria e inteligência espiritual; de grande firmeza doutrinária e teológica; rigoroso, exigente e dedicado; contra todas as imprevisibilidades e vicissitudes com que a vida o traiu, nunca deixou de amar o seu Mestre.
Teve formação em enfermagem, mas a sua paixão prioritária era a Palavra de Deus por isso, quis aprofundar os seus conhecimentos e, o que era invulgar naquele tempo, foi estudar numa escola teológica (Instituto Bíblico Emaús, na Suíça).

Com uma visão de ministério muito avançada para a época, aos 28 anos fundou a União Bíblica (U.B.) em Portugal.
Ainda nesse ano (1949) tornou-se pioneiro dos Campos Bíblicos do nosso país, no Carrascal (Sintra), com a ideia de proporcionar aos jovens crentes uma semana de retiro espiritual e de convívio durante as férias de Verão. Também nisso inovador porque, além da U.B. ser interdenominacional, os acampamentos eram mistos (numa época em que até as escolas eram separadas por sexo).
Com o mesmo objectivo, em 1953, deu início a acampamentos para crianças.
E, conforme vocação da U.B., editou notas explicativas para crianças e adultos, inicialmente traduzidas e/ou escritas por si próprio, como complemento e incentivo à leitura diária da Bíblia.
Foi seu o primeiro e criterioso trabalho de recolha, tradução e adaptação de cânticos que formaram o hinário da U.B.; posso afirmar que são hinos e coros lindos, carregados de mensagem e que nos convidam à meditação e deleite.
Apesar das excelentes adaptações que fez e de saber tocar órgão, dizia não se sentir capaz de ele próprio escrever um cântico, mas, incentivado por um amigo estrangeiro, certa noite começou a pensar naquilo de que as crianças gostam e do que precisam e, na manhã seguinte tinha feito (letra e música) o primeiro e único cântico de sua autoria:

Andar, saltar, correr e brincar,
É bom, alegre e faz-nos crescer;
Porém, parar um pouco e pensar,
Também faz bem e juízo ter.
É bom lembrar que Cristo nos vê,
Nos ouve e sabe o que vai em nós,
Assim, devemos d’Ele aprender,
Segui-lO, amá-lO e escutar Sua voz.

Fiel à chamada do Senhor, junto com a sua esposa, Dª Maria Amélia, serviu durante 38 anos como Secretário-Geral da U.B., ministério que muito amou e onde deixou a sua indelével marca.
Muito importante na vida de imensas crianças e jovens, hoje adultos, quero acreditar que, enquanto um de nós estiver vivo, a influência espiritual que transmitiu não será esquecida.

Em jeito de homenagem, quero caracterizar a minha admiração, lembrando:
~ A forma clara, arguta e atraente como expunha as Escrituras, ao ponto de alguns de nós (campistas), após o estudo bíblico ou a pregação, ainda ficarmos a trocar impressões com ele. Recordo-me muito bem de alguns dos estudos que fizemos e mesmo de pormenores do que aprendi.
~ Os seus olhos rasos de lágrimas quando falava do amor de Deus e do sacrifício salvífico de Cristo.
~ A sua inconfundível e incisiva dicção, que não nos deixava indiferentes àquilo que queria transmitir.
~ A forma como segurava a Bíblia numa mão e mexia a outra enquanto pregava, tornando o discurso dinâmico.
~ O silêncio reflectivo com que ouvia música clássica que tanto admirava. Devo-lhe os meus primeiros conhecimentos sobre as obras de grandes compositores.
~ O quanto nos divertíamos e riamos, com os nossos jogos de batalha-naval que ele próprio me ensinou e, quase sempre, ganhava.
~ A exigência de pai atento que sempre exerceu sobre as crianças e jovens que lhe eram confiados.
~ O facto de me ter visitado quando, aos 11 anos, fui atropelada ficando em perigo de vida e de, durante o acampamento desse ano, me ter escrito um postal assinado por todos os campistas.
~ Que, ao longo dos anos, sempre que lhe escrevi para pedir uma opinião, a dar uma novidade, ou simplesmente para dizer: "Olá!", nunca me deixou sem resposta.
~ As muitas horas que passávamos a conversar e a desabafar. E, as diversas vezes, em que, a meio da conversa, agarrava na Bíblia, ia directo a uma passagem, lia com a sua perfeita dicção e rematava: “É isto, que mais podemos dizer?”.
Nos últimos tempos recordávamos muito aquilo a que eu chamo “os anos de ouro da União Bíblica”, o Pr. Abel contava detalhes do seu tempo no activo e dos projectos que tinha se tivesse continuado. Ambos achávamos que a história da U.B. em Portugal devia estar relatada e documentada em livro, mas isso nunca foi feito e, infelizmente, a fonte principal já não está connosco.
~ Como até ao fim, ou seja, até a doença lhe ter retirado qualidade física e faculdades mentais, lhe pedi conselhos que nunca recusou dar, por vezes com respostas imprevisíveis.
~ Que na nossa relação, figuravam valores de amor, respeito e amizade. Foram anos muito ricos.

Faz hoje 5 anos, fiz-lhe a última visita, lá no nosso local de eleição, onde o chão é sagrado. O seu corpo esteve na Capela do Carrascal, de onde a urna saiu coberta pela bandeira da U.B., o que equivale a dizer que: saiu daquela que era, por direito, a sua casa.
À noite o luar estava lindo, muitas estrelas cintilavam no céu; uma mais luminosa que as outras… sorri-lhe!

Sem palavras porque, tudo quanto disse, fica aquém do que sinto e do que ele merecia.
Ele faz-me muita falta!


“…Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham.” Apocalipse 14:13

3 comentários:

Débora disse...

A minha mãe ensinou-me a amar e a respeitar este homem de Deus e o trabalho realizado... e conseguiu.
Agradeço a Deus pela Sua obra magnífica.
Mãe obrigada por estas recordações.

Débora disse...

Não queria deixar de realçar a forma como ele orava. Era uma inspiração.

Viviana disse...

Querida Mimi

Confesso que este seu texto me sensibilizou muito.

Recorco tão bem esse grande homem de Deus que foi o Pastor Abel Rodrigues...

Vi-o as primeiras vezes na Igreja Baptista de Leiria onde ele era convidado , creio que uma vez por ano, para falar sobre o seu trabalho na União Bíblica, era eu ainda uma jovenzinha.

Depois, mais tarde , uma vez em Lisboa, tive nuitas oportunidades de estar com ele, o que era na verdade uma inspiração.

Tudo quanto a Mimi aqui afirma eu sei que é mesmo assim!

Ao lembrá-lo, com muita saudade e emoção, não posso deixar de louvar e agradecer ao Senhor por a vida e pessoa deste seu servo.

Obrigada por a partilha

Um abraço enorme

De nós os três cá de casa, Jorge, Zé e eu

Viviana