"PORQUE EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE"


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dai-lhes vós de Comer

Sou de opinião que todos nós, especialmente os crentes em Cristo, temos responsabilidades sobre os outros, não só de carácter espiritual, mas também sociais e morais. O zelo missionário de vertente social começou por isso mesmo; daí a igreja primitiva ter organizado um grupo de crentes que desempenhava funções de suprimento das carências dos outros (Actos 6: 1-7).

Há uns 25 anos, quando era professora de crianças dos 6 aos 9 anos na Escola Bíblica Dominical, fui confrontada com uma situação inesquecível.
Tendo em vista o compromisso futuro de cada criança, comecei a esquematizar uma lição sobre o que é necessário para sermos habitação de Deus, pensando em I Coríntios 3: 16-17 (noutra ocasião voltarei para falar acerca destes versículos).
Então, depois de imaginar a dinâmica que podia dar à lição, peguei numa enorme cartolina onde fiz colagens e desenhos alusivos ao tema e legendei com dicas sobre os cuidados a ter com o corpo.



Como modelo, coloquei um recorte do Vitinho, aquele simpático e alegre “menino” de hábitos saudáveis que todas as crianças conheciam por ser imagem duma papa infantil e desenho animado.
E, no dia dessa lição, com auxílio do dito cartaz, expliquei que Deus cuida de nós, porque nos criou e nos ama, mas que também quer que as pessoas sejam cuidadosas. Detalhadamente, falei de higiene, alimentação, habitação, tempos livres, escola, relacionamentos, educação e de como devemos amar e louvar a Deus.

Terminada a lição, uma menina que, muito recentemente, ia à classe acompanhada por dois irmãos mais novos disse-me: "Mimi, eu e os meus irmãos, não podemos tomar banho, nem beber leite, nem comer fruta porque nós somos pobres".
Foi como se tivesse levado um murro… recuperada da abordagem, conversei com a menina o suficiente para perceber que pertencia a uma família disfuncional; pai alcoólico, mãe inactiva, mais 2 irmãos bebés e outro mais velho que ela (ao todo 6 crianças).
No Domingo seguinte, levei fruta, leite, queijo, bolachas e papa e propus-me acompanhá-los a casa depois do culto.
Fiquei em estado de choque. Viviam no rés-do-chão de um prédio devoluto na zona do Saldanha, escuro, húmido, sujo, fétido, com amontoados onde não se distinguia o lixo do aproveitável. A mãe, apática, não disse muitas palavras; o pai já tinha saído e não sabiam a hora a que voltava; o mais bebé estava doente.
Durante alguns domingos, já com apoio da igreja, fui entregar alimentos e roupas tentando minimizar as carências dos meninos. O cenário foi sempre igual; nunca vi o pai; a mãe não se mostrou interessada na mensagem do Evangelho, como nunca se mostrou interessada ou agradecida nas coisas que eu levava.
Num dia em que as crianças não apareceram na classe, fui a casa e já não moravam lá. Não haviam vizinhos a quem perguntar pelo paradeiro. Nunca mais os vi…

Sobrou o mais importante. O facto de um dia aqueles meninos terem ouvido falar de Cristo e terem conhecido o Seu amor!
Quem dera que hoje lhes pudesse dizer:

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste
e de que foste inteirado,
sabendo de quem o aprendeste.” – II Timóteo 3: 14

2 comentários:

Pedro Leal disse...

Obrigado por este testemunho.

Viviana disse...

Querida Mimi

Mas que história bonita!

Impressionante...

Gostei muito de ler e reflectir sobre este intetressante texto.

Obrigada por o ter partilhado.

Muitos beijos

Viviana