"PORQUE EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE"


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Encontro

Ele não era um homem particularmente bonito, mas tinha uma sedução imbatível e inexplicável que ficava muito para além da aparência.
Ela, sim, era linda!
O sol estava a pique; abrasador. Era meio-dia.

O homem vinha de longe e ia de viagem para uma cidade mais ao norte, cansado de andar, com sede e com fome, propôs-se atravessar aquela terra para encurtar caminho e, ao passar junto a um poço, sentou-se.
Com um cântaro debaixo do braço, a mulher apareceu. Caminhava de forma ágil e formosa, com as sandálias penduradas numa das mãos e o cabelo descoberto. Estava completamente alheada do que a rodeava, somente entregue aos seus devaneios.
Essa era a hora improvável de encontrar alguém no poço; porém, para ela, o melhor momento, já que não era bem vista pelos vizinhos e evitava ter encontros desagradáveis.

Na altura em que levantou uma ponta da túnica e limpou o suor do rosto, apercebeu-se de que estava ali mais alguém. Achou estranho, olhou de lado e questionou-se se o calor estaria a transtorná-la (?).
Ora, não faltava mais nada, encontrar ali alguém, aquela hora. Apressou-se a compor a roupa e a calçar-se e, quando olhou melhor…, um homem.

Mau prenúncio!

Mas havia mais, a cor da pele dele não deixava dúvidas, pertencia ao povo que ostracizava os habitantes daquela cidade. Era melhor ignorá-lo...
O homem, com toda a gentileza, olhou-a de frente e disse-lhe: “Tenho sede, por favor dá-me de beber.”

Espanto!

A mulher esbugalhou os olhos, corou, engoliu em seco e, destemida, fixou-o: “Não podes estar bom da cabeça, então tu és do inimigo e pedes-me água?”
Ele sorriu. Aquele homem tinha poesia; o seu jeito de olhar parecia ler o íntimo de quem estivesse na sua presença. Com voz segura e suave, disse-lhe: “Se soubesses quem eu sou, eras tu que me pedias água. E sabes que mais? Eu dava-te água viva!”
Acendeu-se um brilho especial nos olhos dela e, também, sorrindo: “Uhm, estás a tentar ter graça, não vejo que tenhas aí um vaso para tirar a água do poço ou será que tens poderes?”
Ele levantou-se: “Não, não tenho um vaso, mas também não estou a falar desta água – e apontou para o poço, continuando pausadamente – porque, com esta, voltas a ter sede!”

E num passe de quase transfiguração, denunciou a desigualdade de linguagem entre eles: “A que eu dou apaga toda a sede, é como se crescesse na pessoa uma fonte eterna!”
A mulher, ainda mal refeita do que acabara de ouvir e um tanto receosa: “Bom, é mesmo disso que eu preciso. Vá, dá-me lá dessa água; para mim será um alívio pois nunca mais tenho que vir aqui.”

Parecia-lhe evidente que o homem queria conversa, mas, ao mesmo tempo, encontrava nele uma atitude singular. Estava ali, à distância de um passo, mas parecia estar noutra dimensão; dizia-se cansado, mas o seu aspecto era absolutamente tranquilo; olhava-a, mas parecia não ver a sua beleza física. Oh coisa surreal!…

Diz o homem: “Está bem, mas primeiro vai chamar o teu marido.” – ele sabia que a mulher tinha problemas de que precisava retratar-se.
Escondendo a vergonha, ela respondeu numa voz rápida e sussurrada: “Não tenho marido!”
Diz ele: “É verdade mulher, já tiveste cinco maridos, mas este homem com quem agora vives não chegou a casar contigo.”

Medo!

Por breves instantes, saltou-lhe à cabeça que aquele podia ser…, ou não, talvez não fosse. E daí, também não perdia nada, porque não arriscar (?): “Ah, já percebi, sabes tudo e tens essa forma de falar porque és profeta.”
Seguiu-se um diálogo confuso sobre: onde adorar, tradições, presunção da verdade, quem adorar, quem sabe mais que quem. Afinal, quem sabe o quê?
E a mulher, que não queria passar por ignorante, ripostou: “Eu sei, muito bem, que há-de vir o Messias e que é Ele que nos vai dizer tudo. Tim-tim por tim-tim!”
Sem deixar margem para dúvidas, o homem, com voz muito clara, exclamou: “EU O SOU! Eu próprio com quem estás a falar.”

Ela minguou, pestanejou, emudeceu e, caramba, por sorte chegaram ali outros homens que parecia conhecerem aquele e com quem ele se distraiu a conversar…
Devagar, pousou o cântaro ao lado do poço e afastou-se em silêncio. Depois, tomada de um novo animo, correu até à cidade e, ofegante, disse aqueles com quem se ia cruzando: “Venham, vocês nem imaginam o homem fantástico que encontrei. Ele sabe tudo da minha vida.” – ainda indecisa, interrogava-se a si mesma perguntando aos outros – “Será que é o Cristo?”
Logo, querendo certificar-se de que não eram fantasias da mulher, todos se apressaram porque cada um queria ser o primeiro a vê-lo e a ouvi-lo.

Dela, nunca se soube o nome. Simplesmente que era mulher e vivia em Samaria.
Ele, muito mais que um homem ou mesmo um profeta, era o Messias, chamado Cristo!

Nota: Podem encontrar este relato bíblico, em João 4: 1-30.

"Pois, para com as suas iniquidades, usarei misericórdia e
dos seus pecados jamais me lembrarei." - Hebreus 8: 12

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