Em 1955, no dia 9 de Julho, morreu de enfarte do miocárdio, aquele que foi o maior burlão da história portuguesa, Artur Virgílio Alves dos Reis, homem de invulgar inteligência, nascido numa família de parcos recursos.
O seu nome ficou conhecido e para sempre ligado à história portuguesa devido à falsificação de duzentas mil notas de 500$00 do Banco de Portugal, mas isso foi só uma parcela da série de esquemas fraudulentos que perpetrou e lhe deram uma vida faustosa.
O que me leva a falar de Alves dos Reis, não é a vida devassa, engenhosa e criminosa que teve, mas o que poucos sabem e tem a ver com o amor misericordioso de Deus.
“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro.”
Isaías 43: 25
Isaías 43: 25
Preso a 6 de Dezembro de 1925, enquanto aguardava julgamento, Alves dos Reis começou a estudar a Bíblia, em busca de auxílio para se redimir dos males que tinha feito.
Em Maio de 1930, foi julgado e fez a confissão de todos os crimes de que estava acusado, sendo condenado a 8 anos de prisão e 12 de degredo.
Depois, enquanto cumpria a pena, dedicou-se à escrita do livro “O Segredo da Minha Confissão”, no qual reafirmou o que dissera em tribunal, tanto na revelação da culpa, como na defesa de todos os que envolvera como cúmplices nas fraudes por si arquitectadas.
O 1º volume foi publicado em 1931, com enfoque nos versículos:
“Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.” – João 8: 46-47
“Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?” – Mateus 7: 16
e o 2º volume em 1932, que abria com a citação:
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam, mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” – Mateus 6: 19-21
Na Penitenciária de Lisboa, veio a conhecer José Ilídio Freire (ancião da Igreja Evangélica das Amoreiras) que ali se deslocava para pregar o Evangelho e dar assistência espiritual aos reclusos. E, foi com ele que Alves dos Reis aprofundou a Palavra de Deus e se converteu ao protestantismo.
Saiu em liberdade a 5 de Maio de 1945.
Passou então a frequentar a Ig. das Amoreiras, tendo chegado a apresentar mensagens. Mas teve de enfrentar uma vida de dificuldades e sem reintegração na sociedade, curiosamente, não pelo seu passado, mas pela sua fé evangélica que o regime de Salazar deplorava.
Os três filhos: Guilherme Joaquim, José Luís e Luís Filipe, sofreram de graves problemas de saúde (doença degenerativa e paralisante), sendo que um morreu ainda jovem.
Alves dos Reis morreu pobre, mas deixou um legado de fé aos filhos que se converteram e vieram a frequentar a III Igreja Evangélica Baptista de Lisboa (um, transportado num “tabuleiro” e o outro que, deslocando-se com duas bengalas, permanecia de pé encostado a uma coluna propositadamente almofadada para ele). Esse, o Guilherme, teve três filhos que também educou no Caminho de Deus.
Isto prova que, não interessa qual é o estado moral ou físico da pessoa, para Deus não há impossíveis.
“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.” – Mateus 9: 13
(03.09.1898 - 09.07.1955) |
6 comentários:
Boa, Mimi! Dás-me licença que copie para o meu blog?
Olá Eunice,
Sim, estás à vontade. Deus faz coisas tão fantásticas!
Estou velha, ainda conheci os dois filhos de Alves dos Reis e convivi com o Ir. Ilídio Freire até aos meus 14 anos.
Um abraço.
Querida Mimi
Mas que excelente testemunho cristão!
Sabe que conheci e fui amiga e visita da casa... do Irmão Guilherme Alves dos Reis?
Tal e qual como conta...amparado por duas bengalas participava no culto de pé encostado a uma coluna almofadada de branco.
Recordo-me dos olhos muito azuis da esposa; uma senhora sempre sorridente e linda.
Graças a Deus por as maravilhas que faz nas vidas de tantos.
Que bom!
Obrigada por a partilha
Beijos para todos nessa família linda
Viviana
Olá amiga,
calculei que conhecia, pelo menos o Ir. Guilherme. Acertei!
A esposa dele era a Irª. Capitolina.
Um abraço.
Apreciei o relato desse homem de Deus. Em meu blog coloquei a vida de Ilidio Freire, que foi instrumento nas mãos de Deus.
Que Deus continue a usa-lá.
Http://arrazmaz.blogspot.com
Obrigada pelas suas palavras.
Irei visitar o seu blog. Conheci muito bem o Ir. Ilídio Freire, desde que nasci, até perto da sua partida para a glória de Deus.
Shalom!
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